MULHER MULHER VEGETAL EM OTTO BAYER

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O mar vermelho do sangue
abriga uma fauna de amadas
- amadas na floresta
no fundo do mar abissal do mundo vegetal
que vive em nós peixes
- que é nossa vida verde
na mulher verde
verde em flor e Flora
deusa da vida
( somos moluscos inconscientes-Freud
- inconscientes-Freud de que somos peixes sob carapaça
ou frutos do mar servido ao pecado da gula
ou ao pescado da gula )

A mãe é a primeira amada
- a mãe é a barra da alva que divide e multiplica as amadas
a flor de laranjeira cheirando à alva ao levante
de cujo mar saíamos nadando
- mar que banha o líquido amniótico do sonho
de onde saímos à luz das ervas
- das ervas cujas cabeças estão erguidas sobre o solo
à luz das velas padrão em variantes cefeidas
e ao odor da lavanda e flor do limoeiro
que cheira - que cheiro!

Depois vem a filha
a amada de nosso mar vermelho derreado na hemoglobina
aquela que veio à tona d'água do mar vermelho
peixe e estrela-do-mar mergulhada na nossa hemoglobina
- ó mar mar vermelho de pé enxuto para o povo judeu!

Dentre essas duas amadas
aquela que foi amada em corpo
no vegetal da vida
que a vida é o vegetal que nos mantém
- a vida é a mulher vegetal
a flor que se levanta em sol de dentro do corpo
Na árvore da vida
se levanta na serpente do sistema nervoso vegetal
para ser animal
o motor animal

Contudo há a amada de dentro
a que nunca sai à luz da fotossíntese
pois vive oculta na vegetação
no Jardim do Éden interior
- Jardim das Hespérides
o vegetal plantado no sistema nervoso vegetativo
- o vegetal que cultiva a única e última amada
que conosco morrerá abraçada
- a mulher verde vegetal
que transcende em vida à mulher do sonho
porquanto ela é a vida em nós
nossa mãe e filha
- ela, a mulher vegetal, é nossa senhora
senhora da vida
amada natural
( a mulher vegetal
natural natureza em nós )

Por fim vem encravada na amada vegetal
a amada simbólica
filha da nossa poesia
e da poesia-idéia de Platão
que a descobriu na idéia em si
e passou-a na forma de mulher para nós
que a amamos eternamente
na Virgem Maria
e a Vênus de Botticelli