quarta-feira, 31 de agosto de 2011

ARQUIPÉLAGO ( galápagos bahamas berlengas hébridas sandwich frisias)

Tudo o que era
virou cinzas
de um cigarro abandonado por um bêbado
na madrugada da lua amarela
quase aquarela
velha querela
sem taramela
tramela
onde tranque ela
na escrita em estela
entre o opaco da pedra
e a luz da estrela
curvando-se luxuriante à janela na viela
onde está pendida a flor da umbela
que zela pela chama da vela
no templo da vestal sagrada
com a bela donzela
a velar o que não deve ser desvelado
( O ato de desvelar é função do filósofo grego
não da sibila, pitonisa...
que vela o mistério
com sete véus )

Tudo foi queimado pelo tempo
e se transformou em cinzas :
a casa com o sótão
o vetusto sobrado
pedindo luar e sol ao anil
solicitando palmeira a barlavento
com marimbondos vestidos num xadrez
elegantes naquele fraque natural
a evocar noites e dias num tabuleiro de xadrez
de treva e luz branca
- num jogo de treva e luz
de anum branco e anum preto
aves de vôo claudicante
ou dividindo a noite e o dia
nos gêneros masculino e feminino
do célebre círculo chinês
que mapeia campos negros e brancos
no corpo oblongo do marimbondo
cujo vespeiro estava alicerçado
na parte de baixo da palma do coqueiro
que às vezes fazia o vento tremular
quando caía um coco com estrépido
ou uma palma já decaída
para um verde já acinzentado
verde terminal sonhando a palha
enquanto aguarda em semi-queda um pára-queda
descaindo no empuxo da ventania
ou num sopro de nada para cair fragorosamente
em meio à madrugada tecida a canto de galo
- cantor do candor da vida sentida
observada no corpo pelo lado de fora dos sentidos em sintonia fina
outrossim quando o vento vem bufando
e toca fole e pistão
e canta o nome de Deus
- do clemente e misericordioso Alá!

Enquanto minha imaginação
joga xadrez no corpo dos marimbondos
lá naquele lugar que foi o lar
de dois pequeninos felizes
e pais encrustados na felicidade daquelas crianças
Lá ainda brincam felizes
um menino e uma menina!
- O menino e a menina!

Oh! quanta saudade de pai
sinto daquelas crianças!
- do pai que fui
com imenso orgulho
e pleno exercício da felicidade!
e paternidade patética

Pena que felicidade não volte para trás
e se repita incessante e intermitente
tipo chuva chata
( chula se não fosse chuva )
ou tal qual uma música
com musa e estro para poeta menor
da qual muito gostamos
e tocamos com frequência
porque gravada
no coração e fora dele
nos sinais do mundo lido pelo ouvido
no fonógrafo
que nos ouve
e ouve os vivos e os mortos conosco
e me faz ouvir junto ao meu pai
e aos meus filhos
com os ouvidos deles grafados no fonógrafo
- todos ouvindo juntos! :
mortos e vivos
miraculosamente no mesmo tempo
do giro do fonógrafo
pelo ralo do buraco negro
sorvedouro em espiral

O estado da felicidade
está montado sobre o corpo do tempo pretérito
porquanto raramente a percebemos
no estado regente ou presente
porque o ato apaga a opulência infinita de detalhes
e a opção por uma espécie de felicidade
é exatamente pela imaginária felicidade
que não podemos ter senão naquele passado
quando as crianças ainda não haviam
conhecido os pruridos da puberdade
e transmutado a relação com seus progenitores
- quando irrompe o fauno
e a deusa Flora se junta à Vênus calipígia
- depois que o tempo passar pelos olhos e ouvidos
pelo corpo todo com o pelo eriçado
e somente poder dar o aceite
endossado na forma de idílio
da única moeda e sinal
que impossibilite uma transação frustrante
de um tempo feliz
que foi inventado
mas não pode ser reinventado
para um tempo
cujo contexto pode ser lido e tocado
em outras invenções
que antes não constavam dos retratos
- não estavam na foto
como novos artefatos

Sem a faculdade de abstração
que permite eleger atos e fatos felizes
e evidentemente raros
até fictícios
ignorando peremptoriamente
os fatos existentes
apagando-os da memória
- sem tal faculdade
não é possível dar existência simbólica à felicidade
porquanto não há no ar felicidade sublunar
senão o que concerne à escolha
de alguns atos em formação de arquipélagos
ocorridos em ilhas cercadas por águas
que ficam num mar interior
nadando peixe espada
nadando na água interior do marlin
dentro de nossos sonhos mais caros
- no líquido amniótico
onde a felicidade tem o poder de gozar de existência
conquanto não possa viajar de canoa
até aquele arquipélago inacessível ao mundo
ligado por um istmo fora de um mundo
o qual faz ponte para dentro de outro mundo
- este inventado e criado por cada um de nós
para deleite refrigério regozijo

Lá atrás das folhas de um oval longo
brilhosas ao sol
escondida sob o palor refinado do luar
ficou preso à raiz
o pé de canela ascendendo reto aos céus
que não pode nos acompanhar
senão em espírito
pois a alma é vegetal
é um fauno que ainda está naquela árvore
exilado quando do êxodo
- A Caneleira ou "Cinnamomum zeylanicum"

Sei que se ainda vegeta
aquele pé de canela
tem também saudades das crianças!
- daquelas crianças afeitas ao natal
criadas para eternos natais
que podiam até dispensar Cristo
por supérfluo naquelas noites natalinas
bem como todos os estúpidos cristãos
com sua fé e ritos para a morte
ou para matar através da estupidez
implantada paulatinamente na alma cristã
de todos os filhos do latim não pagãos

Ainda havia o pé de pinha
o pé de carambola
e o mais de bioma
de macrobiota e microbiota
ali junto a lagartas e lagartos
verdes ou avessos ao verde
no coqueiro que subia torto
a escada de seu próprio tronco
rumo ao céu abaulado no azul
- no muito azul!
transcendente aos olhos
imanente ao olhar
feito para mar amar
- amar o mar de cada dia!
de anum branco a anum preto

Tudo ou quase tudo
ainda está lá
inclusive a lua latindo o amarelo
o latim cristão na palmeira
o latim de Roma no lugar da alma cristã
a dizer o que é alma natural
alma para naturalista
ou filósofo natural
( os cristãos são sobrenaturalistas
que enfrentam o mundo com o medo das crianças
no escuro de um anum anti-pomba branca
na casa de de trevas do tabuleiro de xadrez
cujos jogadores de luz e sombra
são a noite e o dia )

Todavia no transcurso de menos de dois anos
do nascimento de um menino em casa
no medrar da planta desenhada dentro do neto
- aquela casa com um sótão
ficou lá atrás do tempo
preterida como um museu
o qual saiu do tempo
voou nas cinzas do tempo findo
guardando cinzas
- cinzas para a cabeça do penitente profeta
e silício para o corpo do santo

O tempo com a antiga felicidade
não é passível de reconstrução
nem tampouco desconstrução no construto
porquanto não junta mais o pó
perdido a girar no tempo daquele sol
que já passou pelo zênite e nadir
- em menos de dois anos do nascimento de um menino!
- menos de dois anos e mais alguns avos
e avós no denominador comum!
do número do tempo apagado
do que foi fogo ou brasa no cachimbo
ou da lareira na fogueira de São João
cozinhando o céu noturno
ao som de num estudo de Chopin para piano
e o espocar de fogos
e pipocas na panela

Tudo virou cinzas
de cigarro ou charuto
cachimbo espiralado
acompanho as volutas de fumaça no ar
- sendo o oxigênio, o monóxido e o dióxido de carbono
a base aonde se vai desenhar a fumaça branca
procurando caminhos para o céu
evoluindo até a Via Láctea
- a qual é algo no leite
no lácteo da via "Crucis"
assinalando ou sugerindo fumaça
desenhada no plano lógico da geometria
primeiro instrumento técnico
que serviu ao engenheiro e ao arquiteto
à engenharia mental induzindo a técnica
levando a voz à tecnologia
pela língua em sues conceitos filosóficos-lógicos
e a linguagem matemática
que transcreve a abstrata gnoseologia da álgebra
bem como a geometria algébrica
originado arabescos e pensamento árabe
sagrado e profano

Nada restou
nem cinzas do homem morto
na casa que enlouqueceu
e ficou sem porta e parte do telhado arrancado com violência
pelas intempéries sazonais
A casa cuja entrada estava toda suja
devido à falta de varrição e capina
- o caminho de entrada impedido por ervas daninhas
que armaram laços para os pés
de quem ousasse lá adentrar
uma réstia de luz e sombra do portão quebrado e escancarado
- da casa aonde passou a morar o louco e o mocho
e os morcegos leitores de trevas sapienciais
onde antes viviam duas crianças saudáveis e belas
montando estrelas no céu
- nos arredores da casa
que desapareceu no vento!
- fugiu com a primeira ventania!
- quando aquela família desmantelada
como se faz a um brinquedo quebrado
abandonou o lar...
- deixou para trás
nas cinzas de um universo pretérito
paralelo e em bolhas
o entretenimento dos marimbondos enxadristas
com os físicos quânticos
e os poetas menores
que sabem onde vive a poesia
no universo que não é maior nem menor
não importa se o objeto é uma galáxia
ou um simples azul miosótis
- que não pode ser esquecido!

domingo, 28 de agosto de 2011

INSTITUIÇÃO (wikcionario wiki wik dicionario enciclopedia etimologia onomástica )

O poeta se escreve
- escreve para si mesmo
e não para outrem
nem tampouco para a tampa tamanha da posteridade tacanha
- um solipsismo de solipsista fanático
solidão em solitude
atitude eremita
com o caranguejo-ermitão
sem termos pelos ermos do profeta no deserto
buscando a ermida ou o eremitério
enfim a tebaida
por ser mui vulnerável
não ter carapaça

Os pósteros que se...!!!...
- assim esgrima aquele que se esculpe no ar
com uma geometria que se mensura
em signos materiais
e símbolos intangíveis e tangíveis
conforme a conta contábil
dos significados transcritos para o alegórico
em outra codificação para códice
- com cânone, sem cânone
canhestro estro do cânone e do cânhamo

O escritor é um Auto da Alma
- um Auto da Compadecida
o Auto da Barca do Inferno
que destina seu texto
para o fundo de seu ego
que é uma em âncora
de navio fundeado
na baía do escriba
Não se destina a olhos ávidos de curiosos leitores
roedores de textos
traças de alfarrábios
bibliotecários de Alexandria...

O erudito se corresponde consigo mesmo
na trilogia dos signos e símbolos
que enredam a história
( terceira parte da trilogia )
numa rede de teias para as aranhas presentes na narrativa
cuja primeira voz ou personagem e protagonista é o escritor
quiçá o único
no vazio aberto na casca e carapaça do corpo dos demais
que perderam o corpo e alma
para a trama do dono do teatro :
o poeta trágico ou satírico
épico homérico feérico
As outras personagens coadjuvantes
outras "ostras" em ostracismo
abrem-se no vácuo da casca do coco
e depois do espaço da casca
no vazio maior onde está a carapaça do coco
que armazena água
e massa branca comestível
- da alvura da areia que pisa a praia
com sandálias havaianas
quando a ilha é o Havaí
- Hawaii Hawaii
que não é aqui
é por aí alhures
( A carapaça do coco
tem a forma abaulada de um crânio humano
Endocarpo e mesocarpo
são arcabouços onde se aloja a polpa
- branca como a água branca
do coco-da-praia coco-da-baía
na Bahia cocada
Dentro da carapaça do coco
Por ali passa todo o universo
vindo de longe
e voltando para bilhões de anos-luz
sem que a água se mova um milímetro
sofra nenhum abalo sísmico ou sérico
nos seus eletrólitos
O coco sabe e tem notícia da galáxia mais distante em luz
conquanto não conheça a galáxia
mesmo porque não possui forma erudita de comunicação
Outrossim a galáxia mais longínqua
sabe e tem notícia do coco e do coqueiro
Por isso o poeta não escreve para ninguém
nem mantém uma correspondência de amor romântico
com algum mineral de outra Nebulosa
conhecida ou desconhecida
perscrutada pelo olho ou ocelo da barata )

O trovador a versejar em solo na vetusta Provença
- provençal e providencial
faz a bem-amada sonhar que é para ela
aquela ode retumbante
a descer nos cabelos encaracolados da cachoeira
a cantar outra ode
para bode Pan faunos e ninfas
com a lira de Ovídio e Horácio
a flauta de Pan
e a lira mais lírica que houve
e ainda se ouve
no ouvido do tempo
sem olvido no Letes
- a lira de Orfeu
jamais dada ao olvido
em paradoxais trocadilhos
com estribilhos

Porém para o filho ou filha
a berceuse suave
em pianíssimo
ouvindo Chopin
que é o pianista mais refinado para poesias românticas
- indo aos claros de luar com dedos de Debussy
a tocar ternamente na face do pequenino
da pequenina que dorme
- o sono dos pequeninos
Ah! o sono dos pequeninos!
- o sono das pequeninas e pequeninos é um sonho!
inenarrável depois que cala a berceuse
e a noite cala fundo
no calado da calada
rumorejando silente o rocio
em ouvidos moucos
loucos no arroio da madrugada
- riacho de orvalho límpido )

O rapsodo e profeta se inscreve no que escreve
- no círculo inscrito está escrito
descrito descritor
Entretanto não são destinatários
da carta do bardo
outro que não o próprio bardo
- o próprio remetente
ou emitente da mensagem cifrada
ininteligível aos outros
em epístolas para romanos

O aedo não tem interlocutor
e o que escreve
penetra no silêncio da poesia
e não sabe à poesia
mas à maresia
pois é impossível tocar na poesia
que jamais pode ser escrita
mas apenas vislumbrada na alma
de longe no horizonte idílico
no barco descendo o rio São Francisco
tocado pelo idílio da correnteza
e do remo sem pena de rêmige
Escreve num código hermético
com pena negra e pesada nas tintas
procurando esconder milhares de segredos
de si mesmo para si mesmo
pois para aqueles que finge sinceramente que escreve
gostaria de confessar
todos os seus pecados
e assim se aliviar com o confessor
do fardo pesado
a carga da gravidade

Contudo o leitor também não lê o aedo
ou o lê a medo
com a sensação da aparição iminente do deus Pã
o imenso e pavoroso Fauno dos bosques
que pode surgir abruptamente
como uma mamba negra
e subitamente inocular a peçonha letífera
por a morte em viagem no sangue
- num batel em travessia do mar vermelho
Portanto o leitor lê a si mesmo
se decodifica na pedra de Roseta
sendo Champollion de si
na escritura do aedo
no copta do poeta
desenhado na estela de Roseta
geometrizada no desenho lido pelo sábio fauno
que leu a pedra
decifrou o enigma da esfinge na estela
porquanto um fauno
ou inúmeros faunos é uma leitura decodificada da natureza
- do mais íntimo e recôndito em natureza
mais que a física e a metafisica de Aristóteles
que criou miríades de faunos na sociedade e na cultura
espargindo a sabedoria do fauno
que se centra em si
aonde vai e alcança seus sentidos
quando captam o território
até onde captam objetos
ali é o seu território
que embora pareça restrito e mapeado
limitado ou delineado pelo mapa ao alcance dos sentidos
mitigado ou reduzido pela capacidade da sensibilidade
é o universo inteiro
encerra todo o cosmos
dado num pedaço aparentemente irrisório
em um espaço que cabe num favo de mel
porquanto a totalidade integral do universo
tecido de galáxias e Nebulosas
está já presente integralmente na mínima parte
na abelha e colmeia ou em solitude
no átomo e nas partículas subatômicas
da química orgânica ou inorgânica
em tabela periódica de Mendeleiev
- o sábio e erudito russo de barba-russa
com perfil de Sileno

Nada é óbice no entanto
a que o leitor comum
de parcas letras e escasso conhecimento
leia o que não está próximo ao veneno da mamba negra
ou ao derredor do pavor que ocasiona a mera citação de Pã
o Fauno silvestre Silvano
- silvo de serpente peçonhenta
com a morte ostensiva na ponta do dente
Por isso o vulgo que lê
subjugado no cabresto
apto apenas para decodificar a vulgata
após a exegese e hermenêutica de seus pais espirituais
- os padres da igreja
cuja erística é devastadora
( de qualquer igreja ou instituição que os comande
não enquanto homens
porém na função de obedientes escravos ou servos da gleba )
- o vulgo ama o que lê
e não o que está escrito
mesmo porque o que está escrito
é um bilhete ou rito de passagem
do escritor a seu ego
ilegível ininteligível
infenso às investidas da erudição
excepto para os mais perspicazes exegetas
e os Champollions máxime da poesia de um Goethe
- máximo expoente da sensibilidade poética
e da inteligência filosófica e científica

O poeta é tão-somente um subscritor
daquilo que foi extraído dele
do fundo do vale e do campo vegetal
florescente em seu âmago
e trazido à lume pelo Fauno
do filão de sua alma

A alma do poeta é um Fauno

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

RÉS-DO-CHÃO (wikcionario wiki wik dicionario enciclopedia etimologia etimologico )

A morte de um amigo...
- com a morte ex-amigo à vista da gávea
avistada do alto da gávea
dá-se o fenômeno do homem morto
fenomenologia que rasga a túnica inconsútil do espírito
e mata o lado boreal do homem vivo
que ficava do outro lado do rio
- do rio de sangue do homem morto
quando este era vivo
e fluía para o mar vermelho

A perda definitiva da vida de um ente
com o qual compartilhamos o mundo
significa o embaçamento de um reflexo
na lâmina d'água
- o baque na água!!!
do corpo do suicida
que suicidou-se sem aviso prévio
abruptamente
enquanto os peixes mordiscavam o anzol
( A morte é em si
um suicídio corporal
ou corporificado no cadáver jazente )

É o fim de uma memoria de si
livre de si
despojada do ego
com canto e cântaro em outro ser
- É o esboroar do alter ego
o derradeiro sinal da alteridade
cujo território distava até o outro lado do ser
no campo mais ao norte ou ao sul
- com a alteridade vislumbrada no espelho partido
entre as montanhas de um pseudo azul
no quarto da lua que sonha o quarto crescente
ou o quarto minguante de lua sorrindo
com a boca do gato de Alice
numa abstracção de lua e céu nocturno
( Chopin ao piano
apascentando o noturno pastoril
com avena no sopro do pastor )

A perda de alguém próximo
na proximidade do delta do rio
que dobra o Nilo
rio e profeta do deserto
O Nilo são dois rios correntes
- um rio de água
e outro de crocodilo do Nilo
Todavia tal perda é um fato
que bate forte no espírito de quem fica
a ver o morto
- observar um ser humano envolvido deixar de existir
passar para o outro lado da vida
ou da alma
sem rio Nilo que o banhe
- a banhar e alimentar o sangue
- o rio Nilo que é uma água dúplice
água no rio e no corpo do crocodilo do Nilo
mas não mais no pó do sangue do morto
cujo passamento o levou para a outra margem do rio
e do crocodilo
- das duas águas vivas
O homem morto em pó
foi exilado para o lado com anti-matéria
- anti-matéria de alma
que não tem já em si
matéria alguma
senão a energia
que a sustem suspensa no corpo
agarrando o pó
que a mão da água não mais segura firme
na altura do céu
- enquanto o céu é um chapéu azul
par amulherws vaidosas
porém cheias de vida
transbordando alma
pela água em corredeira

Abandonado pela água
e com o espírito num enclave
na Pedra de Roseta do momento
que jamais poderá ser decifrada
pois não há tantos Champollions assim
dentre os homens comuníssimos
porquanto são os papalvos
que constituem o cerne social
fazem fluir o rio da vida social
no seu mísero cotidiano
sem ritmo circadiano
- o homem morto
é um peixe morto descendo a cachoeira
pois o que é já não importa
mesmo porque já não é
senão o nada que desmancha o corpo
com ação de bactérias e moscas gulosas
ávidas por carne em putrefação

O passamento de um irmão
ou um amigo de décadas
é uma abrupta ruptura de um vínculo
construído pela paixão no tempo
regada na água à clepsidra
e na areia à ampulheta
gota a gota
grão de areia a grão de areia
uma dana na água da clepsidra
e na areia do deserto
ajuntada dentro de uma ampulheta
ou Relógio de Areia
nebuloso na Nebulosa no céu noturno
( Que toque Chopin
um breve estudo ao piano )
É outrossim navegar separado
cada um num veleiro
no mar criado em meio ambiente de clepsidra
em bioma de ampulheta

Qual memória de menino
que se esvai nas bolhas de sabão
a transportar a alma
para longe do corpo
abandonando o espírito morto
assim é a vida a se esvair paulatinamente
caindo da altura do pó
em queda de anjo desidratado
se desmanchando em pó
perdendo-se no sopro de oboé do vento
que tange o pó para longe
a descair da altura da figura geométrica
que desenha e mensura o pó no pó
- no rio de pó que é o corpo humano sem água
totalmente desidratado
na curva do caminho
ao pé do caminheiro
do andarilho dervixe
- anjo em pó

Tudo isso é mais
- muito mais que o luar pode iluminar
com facho no amarelo
ou no branco da ossada
que devolve à lua à lua
no reflexo que resta ao homem morto
conspícuo no branco dos ossos e da caveira
dos olhos em sua parte branca e no esqueleto
todo branco
a brilhar sob a luz do luar
que busca refletir-se e defletir-se
num olhar recíproco
de lua e ossos
que não podem se ver
- olhar cego
similar ao olhar vidrado do morto
revirado num esgar
flertando com a lua
num flerte macabro
- o diabo e a víbora
o basilisco e a mamba negra
numa troca de olhares
entre a realidade e a ficção
- de olhar de quem não se vê
não se olha
senão por outros sensores vitais
ou nenhum sensor
no caso do anjo morto
ao rás do chão no pó
- anjo desidratado
do demônio ao rés-do-chão
decompondo-se entre as ervas
que recebem o canto
e os dedos no piano do vento
ou da brisa refrescante
rascante

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

PARÁBOLA (wikcionario wiki wik dicionario enciclopedia etimologia etimologico )

A caravela era um moinho de vento /
que o vento empurrava /
na travessia pelo oceano /

Um moinho de vento /
com inovador conceito /
e desenho geométrico para o vento /
dar outro empucho /
( Um sistema de propulsão ) /

Ao invés de por a girar as pás /
na paz de Van Gogh em arte sublime /
a caravela recolhia o vento /
na barriga que a brisa ou monção /
estufava na vela branca /
pintada com cruz escarlate /
que identificava a Ordem dos Cavaleiros do Templo /

As caravelas semelhavam moinhos de vento /
- era o desenho da época /
ou moda conceptual de então /
para engenharia eólica /

A função da vela na caravela
era conter parte da força eólica em vela alva /
que inflava na forma de parábola cartesiana /
a fim de recolher o vento /
em sua alvura sob cruz cristã carmesim /

Se não era vela a catar o vento no cata-vento /
eram as quatro pás do moinho de vento /
as quais foram imortalizadas na ficção de Cervantes /
ao narrar a tresloucada investida do cavaleiro da triste figura /
contra as pás do moinho do vento /
arrostando-as com fúria impertinente /
Oh! pobre e triste cavaleiro andante! /
- Dom Quixote de La Mancha /
imagem melancólica do homem /
que será o homem morto /
e o homem ensandecido /
a poucos passos do abismo /
que se abre para o salto no vazio /
para o suicídio /
sem asas ou cruz cristã /
que arremeda a medo o desenho de asas /
que não servem à concepção do vôo /
sem laivo ou veleidade de aerodinâmica natural /
incapaz de desenhar e conceber
um planador com piloto que não fosse mórbido /
tentando inutilmente /
planar com asas sobrenaturais /
que não estão no planador /
mas na geometria sobrenatural do cristianismo /
que põe kamicazes no céu /

As caravelas e o cristianismo eram cemitérios de cruzes /
partidas pela procela /
partindo na procela /
partilhando da procela /
- braços abertos /
no amplexo fatal /
com o vento e o tempo /
- contra o vento e o tempo! /

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

SIMBÓLICOS (wikcionario wiki wik dicionario enciclopedia etimologia )

O pé de laranjeira que figura em em minha poética
na geometria da minha poesia
com a flor alva lavada pelo alvor avô da barra da alva
e o sorriso da barra da alva nos dentes
a cintilar orvalho no diâmetro da circunferência da gota de aljôfar
- a laranjeira com armadura medieval nos espinhos
com algum pó sutil de negrume na folhagem densa
exalando aquela fragrância delicada
que distingue o teor do perfume da flor de laranjeira
- esta laranjeira ideal
esta idéia de laranjeira
ou laranjeira em idéia platônica
captada em visões de laranjeiras nada platônicas
que a realidade põe em pé
com raízes a agarrar vigorosamente o solo
- a laranjeira plantada na minha poética
plana na origem de duas laranjeiras reais
as quais se confundem ou se fundem em uma única laranjeira
ou na idéia mesma da laranjeira poética
para uso romântico na língua romance
e para cindir o tempo e o espaço
da minha infância de um lado da casa
e da juventude no outro tempo
no espaço da casa contígua
onde morou um amigo
cuja alma foi perdida para a terra
ou para a laranja-da-terra
há pouco mais que sete dias
- finado há uns sete dias
( mas que são sete dias
para um comunista ateu
em seu ser e no de Marx?!
- um agnóstico que morreu corajosamente
recusando ser crédulo e pusilânime como um padre ou frade de Jesus
os quais vivem sob a mendicância e mendacidade
que caracteriza o homem do vulgo
ou o pseudo-monge preso a regras alheias
- alienadas na acepção dúplice de venda ou loucura
( são dementes e venais tais seres liquidados, falidos )
pois estes são a besta pior
com sete chifres ou sete cornos e a cornucópia
sete palmos sob terra
e missa no sétimo dia do niilismo sem-razão de ser
ou de conhecer em princípios
que evocam as raízes do conhecimento da filosofia
que vai de Aristóteles a Kant
em toda a extensão do fim da filosofia
com seu homônimo Marconi
nas ondas do rádio )

Uma das duas laranjeiras
foi a primeira laranjeira que conheci
e soube pelas emanações que formavam uma trilha
nos sentidos do menino
que se tratava de uma árvore de porte quase arbustivo
a qual existia no quintal de casa
quando era eu menino menino
pequenino menino
- menino de escalar o tronco torto e tortuoso do cajueiro
até o telhado de um barracão adendo à casa

Era um pé de laranja-da-terra
no dizer de minha mãe
fruto que tão-somente servia para fazer compota
pois a fruta era mui amarga
- mas pintava-se com um amarelo vivaz na casca!
e folhas de um verde escuro
- de um escuro perceptível mesmo com o o sol no zênite
tamanha extensão na treva tem a folha da laranjeira!
que possui ou ostenta
uma escuridão assombrosa no verde das folhas
nas folhas guardadoras de trevas
lastro de matéria negra
negra energia chiando no canto subliminar do universo
invadindo as regiões do cosmos com o espatifar de ondas escuras
- de uma escuridão de morte
escuras de morte!
ou presente na escuridão que precede a morte
e continua pela eternidade de olhos vendados
velados eternamente
- para sempre sem luz!
o outro véu que constitui o olhar

A outra laranjeira
que vi depois de longo tempo
que conhecera a minha laranjeira primeva
distava daquela alguns passos do Senhor dos Passos
indo da vida para a morte
com a cruz às costas
e a alma negra dentro do verde
ou mesclada à cor que alcatifa solo
para monge pisar ao longo do caminho
na travessia ou êxodo sem fim
- a outra laranjeira
Imagino que era da mesma espécie da primeira
Contudo foi naquela casa velha
com varanda com desvãos de madeira
onde morava um raro amigo com sua família
que percebi e respirei o olor da flor de laranjeira
enquanto a noite espargia trevas
na brisa fria que corria a esmo
e formulava o olfato da minha juventude
na equação química expressa no ar
em ondas de perfume
que formava uma laranjeira só de aroma
sem folha ou flores ou raiz ou tronco espinhoso

Entre essas laranjeiras
havia um clube
que tocava marchinhas de carnaval
madrugada fora ( ou dentro?)
no tempo da folia

Essas duas laranjeiras
acabaram sendo lidas como uma única laranjeira
na poesia que ousei temerariamente deixar por escrito
- lidas e escritas por mim
a pior antologia poética que reuni
porquanto a poesia que pode ser arrancada da beleza e do limbo
e escrita para ser lida
já é uma obra de violência em signos e símbolos
de violação alegórica
- é o que de pior se garimpou em versos truncados e fragmentados!

A melhor poesia
é infensa à leitura
e outrossim à literatura
por ser inatingível por meio da semiologia
e mesmo pela semiótica ritualizada pelo teatro
ou em enredo de drama no cinema e nas novelas
ou por via de qualquer sistema de língua e linguagem
ou ainda de representação humana
quer seja religiosa ou filosófica:
enfim, de qualquer outra forma humana
que não seja a manifestação da alma
- alma no sentido latim
e não no sentido cristão do mandrião
com asas e pás ao vento para mover moinhos de vento
e olvidar o tempo em um quadro de Van Gogh
então de olho pregado no tempo!
( O tempo que então estava nos moinhos de vento
soprava flauta ou trombone no nariz do pintor holandês
descendente da escola flamenga
que criou Brueguel, o velho
- pintor de Brabante )

Agora que o amigo
ficou com a alma presa à pedra
e o espírito fossilizado nos signos e símbolos de sua escrita
não há sequer uma folha de laranjeira entre nós
porque a minha laranjeira continua remando por flor e alva
mas a laranjeira do amigo morto
ficou no tempo
em que ele e a laranja-da-terra se miravam reciprocamente
- hoje essa laranjeira continua nua de espaço na terra do tempo
porquanto perdeu o espaço de terra
que ajuntava o anjo da laranjeira em sopro no ar para oboé
e não tem mais a alma do amigo falecido
para soprar o espírito de terra
e por a laranjeira em pé ante si
- frente a seu corpo
que se esboroou
no anjo em pó de laranjeira
que não mais entrou em espaço
na alma do amigo finado
sem corpo para vestir a si e a laranjeira
porque o tempo pode subsistir sem espaço
pode transcender a existência
sobrevivendo apenas com o ser
- tão-somente em essência
assim como o homem morto
vive ainda de memória
mesmo em terra de cajueiro
onde se plantou uma laranjeira
a planar no plano de Euclides, o geômetra
fora do espaço
no sentimento subjetivo que é o tempo
falando de um amigo como um homem morto
podendo decifrar o enigma de sua inteligência
no que ele deixou transcrito em signos e símbolos
se eu tivesse capacidade para penetrar seus escritos linguísticos
em simbólicos de seu pensamento
e do quanto ele sabia
que poderia ser mais ou menos do que sei eu
não obstante ser a história
- sempre narrada pelos sobreviventes de então
para os quais ainda há caminhos e passos
antes da queda no abismo escuro

Não há mais uma laranjeira
entre eu e o amigo morto
dividindo nossos espaços calcados no pó
que nos ergue em corpo pela energia
mas apenas no tempo
e de um lado só do tempo
até que meu tempo
se apague na alma

Não há mais no espaço interior
duas laranjeiras prenhe de laranjas-da-terra
porquanto uma ficou sem espaço e tempo
num interior subjetivo
de quem não mais existe
- Restou apenas a laranjeira que vejo no espaço exterior
geminado com o tempo
ou as duas laranjeiras minhas
uma no espaço e tempo exterior
e outra no espaço e tempo interior
do sujeito que não faz compota de laranja-da-terra

As duas laranjeiras
que no espaço objetivo eram independentes
fundiram-se-me em uma laranjeira una
unívoca na voz do odor

Já vira laranjais em renque
em aléia extensa
andando sobre raiz léguas sobre terras
carregados de pomos
como se fossem mulos

Todavia agora que o outro homem jaz morto
que estou sem uma parte do meu ego
alijado de alter ego ou espelho
sou um Narciso contemplando o suicídio na água
- sou um monge defronte a uma laranjeira
que recebe o reflexo da minha solidão
que se apagará também
com a luz noturna do mais amado dos vagalumes